NĂșmeros de casos e mortes alertam para segunda onda da covid-19 no Brasil

PaĂ­s retorna ao patamar de mais de 30 mil casos e de aproximadamente 600 mortes pelo novo coronavĂ­rus. Entre as semanas 45 e 46, houve subida de mais de 65% nas infecções e de 42% nos óbitos, resultado do abandono das medidas de contenção da doença

Por Correio Braziliense - Posicionaento textual - Ricardo Becker em 19/11/2020 às 09:41:12
Minervino Júnior/CB/D.A Press

Minervino Júnior/CB/D.A Press

Passado um ano desde o primeiro caso registrado de covid-19, parte do mundo enfrenta uma segunda onda da pandemia. No Brasil, a doença, que estava em aparente fase de declĂ­nio –– após um longo perĂ­odo de estagnação em altos patamares ––, com o fechamento dos nĂșmeros da semana 46 o sinal de alerta voltou a soar. Dados indicam que algumas regiões do paĂ­s sofrem com novos surtos e, por isso, uma recorrĂȘncia da covid-19 não estĂĄ afastada, sobretudo porque as medidas de proteção individual estão sendo abandonadas, bem como o isolamento social hoje praticamente inexiste.

Somente as atualizações de ontem dão demonstrações dos aumentos gerais. Isso porque, voltou-se ao patamar de mais de 30 mil casos positivos e seis centenas de mortes pela doença. Em 24 horas, foram confirmados 35.294 diagnósticos de covid-19 e 685 óbitos. Com isso, o paĂ­s acumula 5.911.758 casos e 166.699 vidas perdidas desde o inĂ­cio da pandemia, e pode fechar a semana epidemiológica 47 com acumulado indicando aumento nos nĂșmeros.

Só entre as semanas 45 e 46, houve uma subida de mais de 65% nas infecções, passando de 117.956 novos registros semanais para 195.398. O incremento nas mortes foi de 42%, quando o acĂșmulo de óbitos em sete dias saltou de 2.385 para 3.389. Entretanto, atraso na atualização dos dados, devido a uma tentativa de invasão aos sistemas do Ministério da SaĂșde, pode ser uma das explicações para as grandes divergĂȘncias entre um fechamento e outro. Ainda assim, ao comparar a semana 44 com a 46, os incrementos são de 26% em relação aos casos, e de 13,7% quanto às mortes.

"A interrupção da inserção de registros no Sivep-Gripe entre as semanas 45 e 46 pode afetar a qualidade do estimador de casos recentes em alguns locais. Como o sistema é recalibrado semanalmente, eventual perda de qualidade deve ser reduzida gradativamente nas próximas semanas", avalia o coordenador do Infogripe e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Marcelo Gomes.

No balanço do Infogripe mais atual, a partir do fechamento da semana 46, o pesquisador afirma jĂĄ ser possĂ­vel ter algumas percepções de crescimentos, analisando os nĂșmeros por localidade. "Quando olhamos para cada região do paĂ­s, vemos que diversas capitais apresentam retomada do crescimento nos casos graves, monitorados pelos registros de SĂ­ndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG)".

Oito capitais apresentam sinal de crescimento na tendĂȘncia de longo prazo e, outras duas, no curto. Belo Horizonte, Goiânia, Distrito Federal e Vitória, embora estejam apresentando sinal de crescimento no boletim, pela primeira vez, desde o inĂ­cio da queda, registraram também esse sinal na tendĂȘncia de curto prazo na semana 45. São Paulo, novamente, tem sinal de estabilidade nas tendĂȘncias, mas indica que houve incremento nas semanas anteriores.

"A anĂĄlise da curva de casos sugere que a situação é de oscilação em torno de valor estĂĄvel", observa Gomes. Porto Alegre voltou a registrar possĂ­vel interrupção na tendĂȘncia de queda, compatĂ­vel com relatos provenientes de unidades de saĂșde. Manaus, que vinha recebendo destaque em função da situação de retomada do crescimento em agosto, passa a apresentar sinal moderado de queda. "No entanto, é importante destacar que o sinal é de queda lenta e ainda insuficiente para retornar ao patamar observado em julho".

Com as retomadas, a média móvel tanto de infecções como de óbitos estĂĄ subindo. De acordo com anĂĄlise do Conselho Nacional dos SecretĂĄrios de SaĂșde (Conass), por dia estão morrendo 557 pessoas, em média, e hĂĄ acréscimo diĂĄrio de 30.393 casos. Em 24 de setembro, a média móvel estava equiparĂĄvel a de agora, quando as atualizações giravam em torno de 28.902 registros diĂĄrios. Depois disso, a tendĂȘncia foi de queda, com um leve aumento no fim de outubro. No entanto, desde a segunda semana de novembro, os Ă­ndices não param de subir e o mesmo ocorre em relação aos óbitos, cuja média móvel voltou a subir em 11 de novembro.

SP ultrapassa as 40 mil mortes


No Brasil, das 27 unidades da Federação, 24 registram nĂșmeros acima de mil mortos pelo novo coronavĂ­rus. São Paulo é o estado que lidera o ranking e jĂĄ soma mais de 40 mil mortes pela covid-19 –– são 40.749 vĂ­timas. Em seguida, vem Rio de Janeiro (21.474) e Minas Gerais (9.531). Logo abaixo estão CearĂĄ (9.448), Pernambuco (8.854), Bahia (7.989), ParĂĄ (6.838), Rio Grande do Sul (6.314), GoiĂĄs (6.071), ParanĂĄ (5.758), Amazonas (4.723), Maranhão (4.195), EspĂ­rito Santo (4.037), Mato Grosso (4.001), Distrito Federal (3.837), Santa Catarina (3.370), ParaĂ­ba (3.216), Rio Grande do Norte (2.643), PiauĂ­ (2.541), Alagoas (2.301), Sergipe (2.263), Mato Grosso do Sul (1.697), Rondônia (1.508), Tocantins (1.141). Apenas trĂȘs estados registram menos de mil fatalidades pela covid-19 cada: AmapĂĄ (782), Acre (709) e Roraima (709).

Um brasileiro infecta outras 110 pessoas


As anĂĄlises da taxa de transmissão (Rt) do novo coronavĂ­rus vinham dando uma impressão do controle da covid-19, com indicação de declĂ­nio de contĂĄgio. Mas, isso não é verdadeiro. O mais recente levantamento do Imperial College, de Londres, colocou o Brasil em nĂ­vel de crescimento. A Rt estĂĄ em 1,10, ou seja, cada grupo de 100 pessoas tem potencial para transmitir o vĂ­rus da covid-19 para outras 110 pessoas saudĂĄveis.

Na semana anterior, o Ă­ndice era de 0,68, o que reforça que usar o indicador de forma generalizada e desconexa, e sem considerar outros fatores como capacidade hospitalar, letalidade, suscetibilidade, entre outros, pode gerar uma anĂĄlise rasa e superficial, conforme salientam os especialistas.

"Na verdade, o que se tem é uma média entre os municĂ­pios com taxas baixĂ­ssimas, de 0,1 ou 0,2, por exemplo, e outras localidades com Ă­ndices elevados, de 1,5 para cima. Quando se analisa o Brasil inteiro, vocĂȘ nota essa média, o que dĂĄ, na verdade, uma falsa impressão. Com isso, alguns municĂ­pios podem acabar negligenciando esses aspectos, o que explica uma nova explosão de casos. Temos uma epidemia muito mais descentralizada e heterogĂȘnea, com diferentes epidemias ocorrendo em diferentes localidades e momentos", alerta o infectologista do Hospital SĂ­rio-LibanĂȘs Alexandre Cunha.

Outra observação é a de que a Rt estĂĄ longe de ser estĂĄtica e volta a subir exponencialmente de uma semana para outra. Isso jĂĄ ocorria, por exemplo, na Espanha, França, Alemanha e ItĂĄlia. Agora, é o Brasil retorna ao rol de paĂ­ses com a doença em nĂ­veis de descontrole na transmissão.

"O que acontece é que, em comparação com o Brasil, outras localidades tĂȘm dois a trĂȘs meses de diferença do auge da epidemia. Por isso, a segunda onda também chegou mais cedo neles. Com a liberação das atividades, maior contato com as pessoas, afrouxamento das medidas de isolamento e distanciamento, se propicia o aparecimento de uma segunda onda. Se ainda não é uma realidade evidente aqui é, provavelmente, por causa desse espaço de tempo, mas é bem possĂ­vel que aconteça", avalia Cunha. (BL e MEC)

Reação ao 1Âș caso foi um mĂȘs depois


O primeiro caso de covid-19 no mundo ocorreu no dia 17 de novembro, do ano passado, na China, de acordo com uma investigação do jornal South China Morning Post, de Hong Kong, com base em dados do governo de Pequim. O alerta só foi dado em dezembro. Até o dia 15 daquele mĂȘs, o nĂșmero total de infecções era de 27, mas, cinco dias mais tarde, jĂĄ havia 60 infectados. Foi em janeiro de 2020 que a China decretou lockdown. As medidas mais rigorosas na Europa começaram em março, perĂ­odo em que o Brasil ainda registrava a primeira morte pela doença. Atualmente, ao menos 14 paĂ­ses voltaram a adotar medidas mais restritivas de isolamento para conter as consequĂȘncias de uma segunda onda, e evitar colapso nos sistemas de saĂșde.

SaĂșde observa vacina da Pfizer


Uma semana após a divulgação dos resultados positivos sobre a eficĂĄcia da vacina contra a covid-19 produzida pela farmacĂȘutica americana Pfizer, o Ministério da SaĂșde recebeu, ontem, os executivos da empresa norte-americana para discutir a possibilidade de compra e fornecimento do imunizante. A pasta se reunirĂĄ, ainda nesta semana, com as farmacĂȘuticas Janssen, da Johnson & Johnson; com o Instituto Gamaleya, responsĂĄvel pela vacina russa Sputinik V; e com a indiana Bharat Biotech, produtora da Covaxin –– que, de acordo com o ministério, possuem vacinas em estĂĄgios avançados de desenvolvimento.

Por meio de nota, a pasta explicou que o objetivo do encontro com a Pfizer "é conhecer os resultados dos testes em andamento e as condições de compra, logĂ­stica e armazenamento oferecidas pelo laboratório". Uma das barreiras para a incorporação da vacina da Pfizer no Programa Nacional de Imunizações (PNI) é a técnica sofisticada, com a qual o Brasil não tem proximidade.

A tecnologia baseada no RNA da covid-19 precisa que o material permaneça armazenado em locais com temperaturas extremamente baixas. Por isso, o ministério ainda estuda como seria feita a distribuição do produto e outros pontos-chaves para a incorporação da vacina, que foi a primeira a ter confirmação de 90% de eficĂĄcia em testes em massa.

A previsão dada pela pasta para que a primeira remessa de vacinas contra o novo coronavĂ­rus esteja disponĂ­vel no paĂ­s é no primeiro semestre de 2021. A primeira leva de imunizantes deve contemplar o grupo de risco da doença, a ser definido pelos aspectos epidemiológicos de eficĂĄcia e de segurança da vacina a ser utilizada. O ministério promete, ainda, e para breve, a apresentação do plano de imunização da população contra a covid-19.

Acordos


Até o momento, o paĂ­s possui dois acordos em andamento para ter acesso às vacinas. Um deles é o compromisso de compra e transferĂȘncia da CoronaVac, parceria entre o Instituto Butantan e a farmacĂȘutica Sinovac. Além disso, o governo federal, por meio da a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), jĂĄ assinou um contrato para receber doses e obter a tecnologia integral da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford em conjunto com o laboratório AstraZeneca.

Outra forma de conseguir o fornecimento de uma futura vacina contra o novo coronavĂ­rus é pelo Covax Facility, iniciativa da Organização Mundial da SaĂșde para a distribuição de imunizantes licenciados, da qual o Brasil faz parte.

O paĂ­s participa dos testes de quatro vacinas diferentes: da Pfizer, da Janssen, da Sinovac-Butantan e a da AstraZeneca-Oxford. Apesar de fazer parte dos estudos de fase 3 da vacina da Pfizer, o imunizante estava fora do radar do ministério porque o paĂ­s não tem um acordo direto para a compra do produto e a vacina não faz parte do portfólio de imunizantes do Covax Facility.

Fonte: O Imparcial

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