A um dia de terminar o mĂȘs de abril, o Brasil ultrapassou a marca de 17 mil focos de incĂȘndio e superou o pior quadrimestre da história de queimadas registradas no paĂs. Os dados são do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), vinculado ao governo federal e foram atualizados nesta terça-feira (30).
Ao todo, foram registradas 17.064 queimadas de 1Âș de janeiro a 29 de abril. Um aumento de 81% em relação ao mesmo perĂodo de 2023. Os nĂșmeros tambĂ©m superam os 16.988 focos de 1Âș de janeiro atĂ© 30 de abril de 2003, pior perĂodo da sĂ©rie histórica, iniciada em 1999.
Os estados de Roraima e Mato Grosso lideram o ranking das queimadas, com 4.609 e 4.122 registros de queimadas, respectivamente - veja os nĂșmeros de cada estado mais abaixo.
Os biomas com maior nĂșmero de queimadas registradas este ano são a Amazônia, o Cerrado e a Mata Atlântica. Veja:
Luiz Aragão, pesquisador da divisão de observação da terra e geoinformĂĄtica do Inpe, explica que a ação humana e o fenômeno climĂĄtico El Niño são fatores que podem ter influenciado na alta dos nĂșmeros.
"O recorde que observamos estĂĄ relacionado com a ocorrĂȘncia do fenômeno El Niño, que Ă© o aquecimento do Oceano PacĂfico, causando aumento de temperatura em cima do continente e diminuição de chuva, especialmente na fração norte da Amazônia, ao norte do Equador", disse.
"Isso causa aumento no nĂșmero de queimadas na região da Roraima, principalmente. A ocorrĂȘncia dessas queimadas tem uma relação muito forte com a dinâmica do desmatamento. Então o desmatamento, mais o El Niño, vocĂȘ tem uma expansão das queimadas na região Amazônica", afirmou o pesquisador.
Ainda segundo Luiz Aragão, mesmo estando em uma estação considerada chuvosa, as queimadas continuam crescendo, pois o El Niño impacta diretamente na diminuição do volume de chuvas no paĂs.
"Na fração sul da Amazônia, abaixo da linha do Equador, estamos na Ă©poca de chuvas, mas as condições climĂĄticas causadas pelo El Niño reduzem essa chuva que ocorre no continente, então a gente tem chuvas abaixo da mĂ©dia, mesmo durante a estação chuvosa. Essas queimadas acabam sendo maiores do que as mĂ©dias jĂĄ observadas devido ao fenômeno do El Niño", contou.
O pesquisador destaca que para alĂ©m das questões climĂĄticas, a ação humana continua sendo um dos fatores que provoca maior degradação do meio ambiente.
"A ação humana Ă© a fonte de ignição para o fogo na Amazônia. A Amazônia normalmente não queima sem a ação humana. Durante todos os anos, o fogo ocorre devido a ação humana, com desmatamento, degradação florestal e manejo das ĂĄreas jĂĄ abertas com o uso do fogo", apontou.
"Com as atividade humanas, tanto de desmatamento, quanto do manejo das ĂĄreas desmatadas aplicando o uso do fogo, nós temos uma maior incidĂȘncia das queimadas", finalizou.
Mesmo liderando o ranking de queimadas, Roraima e Mato Grosso estão numa trajetória descendente. O estado do Norte teve 2.057 registros em fevereiro - recorde absoluto no estado. Em março, o Ăndice caiu para 1.429. E atĂ© o dia 29 de abril, foram 519 ocorrĂȘncias.
Mato Grosso começou o ano acima da mĂ©dia histórica do estado, com 847 e 863 registros em janeiro e fevereiro. Teve um pico de queimadas em março, com 1.624 ocorrĂȘncias. E caiu para 797 em abril.
O g1 acionou o MinistĂ©rio do Meio Ambiente e os governos de Mato Grosso e Roraima. O Governo do Mato Grosso disse, por meio de nota, que "o Estado passa por um perĂodo atĂpico desde o final de 2023, com pouca incidĂȘncia de chuvas e baixa humidade. Com isso, o material orgânico seco, como a turfa, se acumula, o que facilita a combustão".
A nota ainda acrescenta que foi publicado decreto com prazos ampliados para o perĂodo proibitivo de uso do fogo em 2024. Na Amazônia e Cerrado, o uso do fogo fica proibido entre 1Âș de julho a 30 de novembro. No Pantanal, entre 1Âș de julho e 31 de dezembro.
O Governo de Roraima ainda não enviou uma posição sobre o assunto.
Fonte: g1