Câmara discute destino de precatórios do Fundef

A Comissão de Educação da Câmara dos Deputados debateu ontem (17) o destino dos precatórios do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento

Por Jota Silva em 18/05/2021 às 08:11:14

A Comissão de Educação da Câmara dos Deputados debateu ontem (17) o destino dos precatórios do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef).

A principal questão debatida durante a audiĂȘncia pĂșblica foi o destino de parte desses recursos ainda não pagos – mais especificamente sobre se ele seria usado a critério dos gestores em educação, ou se teria como destino abonos a serem pagos a professores e demais profissionais da ĂĄrea.

O deputado José Ricardo (PT- AM), que solicitou o debate, lembrou que desde quando foi implementado o Fundef, até sua substituição pelo Fundeb, constatou-se que a União repassou aos estados e municĂ­pios valores inferiores ao devido, gerando o que se popularizou chamar de "precatórios do Fundef".

Na discussão de hoje, deputados, autoridades e representantes de professores e de municĂ­pios debateram a subvinculação do Fundef em relação aos 60% que deveriam ter como destino os profissionais da educação.

Ao iniciar sua fala, o coordenador de Operacionalização do Fundeb do Ministério da Educação (MEC), Leomir Ferreira de AraĂșjo, disse que esses precatórios ocorreram porque "em algum momento entre o perĂ­odo entre 1998 e 2006, a União e sua complementação não transferiu recursos de forma esperada, com os cĂĄlculos adequados".

O coordenador lembrou que a Justiça jĂĄ teria concluĂ­do que houve o equĂ­voco e, "de forma justa, quis retribuir, ressarcir e reoperacionalizar a aplicação desses recursos devidos aos estados brasileiros".

Ele disse ainda que manifestações técnicas tĂȘm se pronunciado, ao longo dos Ășltimos dez anos, de forma a ressaltar que o recurso precisa retornar aos estados para ser aplicado na ĂĄrea de educação, implementando ações de manutenção e desenvolvimento do ensino, de forma a contribuir para a educação pĂșblica brasileira.

"A jurisprudĂȘncia do TCU [Tribunal de Contas da União] diz que não seria possĂ­vel a subvinculação em relação aos 60% desse recurso, e que ele deve retornar à educação sem esse tipo de vĂ­nculo ou relação obrigatória", disse o coordenador do ministério.

Objetivos

Segundo o secretĂĄrio de Controle Externo da Educação, da Cultura e do Desporto do TCU, AlĂ­pio Dias dos Santos Neto, os recursos devem ser utilizados em ações como manutenção e desenvolvimento do ensino para a educação bĂĄsica pĂșblica. Ele alertou para a "impossibilidade de uso do recurso para pagamento de honorĂĄrios advocatĂ­cios com recursos dos precatórios do Fundef, nem para pagamento de rateios, abonos indenizatórios, passivos trabalhistas ou previdenciĂĄrios ou qualquer remuneração ordinĂĄria" – posicionamento que foi questionado por parlamentares e por representantes de profissionais da educação.

"Todos aqui buscam justificar, via Constituição, suas ideias e seus desejos. O Fundeb foi criado visando a manutenção do ensino fundamental e a valorização do magistério. Mas vocĂȘs esquecem de que, dos cinco objetivos descritos para o Fundeb, quatro tratam de professores e professoras", disse o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Heleno Manoel Gomes AraĂșjo Filho.

"O primeiro desses objetivos é o de pagar os docentes e outros funcionĂĄrios que atuam diretamente nas instituições de ensino. O segundo [objetivo descrito para o Fundeb], é o de pagar encargos sociais devidos pelo poder pĂșblico. O terceiro objetivo é o de [ser usado para a] elaboração de planos de carreiras e remuneração de docentes. E o quarto, investimento na melhoria de professores e professoras, com cursos de especialização, acesso ao ensino superior, e outras formas de investir nesses profissionais", argumentou.

Desvio de recursos

O presidente do Sindicato dos Servidores PĂșblicos lotados nas Secretarias de Educação e de Cultura do Estado do CearĂĄ, Anizio Melo, corroborou da posição manifestada pelo presidente da CNTE e acrescentou que, a partir de 2015, parte dos prefeitos usou os recursos de forma livre, sem a destinação correta.

"Esse dinheiro estava sendo desviado em vĂĄrios municĂ­pios e não vimos órgãos fiscalizadores se colocando naquele momento. Parece que um conjunto de entidades fiscalizadoras vinham atacando essa subvinculação dos 60% mesmo após decisões do STF. Alguns sob a justificativa absurda de que esses recursos fariam os professores ficarem ricos", disse Melo, ao defender que tais recursos deveriam manter a sua vinculação em 100% para a educação, dos quais 60% teriam como destino profissionais de magistério. "Do nosso lado estĂĄ a Constituição brasileira. Tentamos resgatar o que nos roubaram lĂĄ atrĂĄs e agora querem nos roubar novamente", acrescentou

Consultora da ĂĄrea de educação da Confederação Nacional de MunicĂ­pios (CNM) Mariza Abreu reafirmou a posição da entidade representativa dos prefeitos, no sentido de defender que a aplicação desses recursos devem ser destinados a investimentos em educação. "Valorização não é só remuneração. É dar condições de trabalho, inclusive de forma a garantir as condições para o retorno ao trabalho ou o acesso das escolas à internet, com laptops e computadores a serem usados pelos alunos", disse a representante da CNM.

"Todos sabemos que em nosso paĂ­s hĂĄ uma tremenda desvalorização de professores, profissionais da educação e da própria educação. Muitos gestores pĂșblicos sequer pagam o piso mĂ­nimo salarial, de R$ 2.286, a professores, o que deixa esses profissionais desmotivados, acuados e sem acesso a muitos benefĂ­cios que poderiam acessar principalmente nesse momento de pandemia", complementou a representante da Frente Norte pela Educação, professora Paulina Pereira.

Aposentados

A professora Paulina Pereira criticou a falta de compromisso de diversas autoridades municipais com a educação que, segundo ela, teriam inclusive dito que professores aposentados não teriam direito ao abono. "Dizer que aposentados não tĂȘm esse direito é o maior absurdo da história do Brasil. Por que vocĂȘs não criticam os gestores que não pagam o piso mĂ­nimo aos professores? Isso não os preocupa?", questionou. "De fato é absurda essa ideia de dizer que professores enriqueceriam caso recebessem esse abono. E é até injusto pensar que os aposentados não poderão receber nada, após terem doado as suas vidas pela educação", afirmou o deputado José Ricardo (PT-AM).

O deputado Pedro Vilela (PSDB-AL) também defendeu que o direito dos professores ao abono seja efetivado. "Essa categoria não é valorizada da maneira como deveria, da forma como é feita em outros paĂ­ses", disse o deputado, ao criticar "setores que não tĂȘm interesse de que esses recursos cheguem aos professores".

Representando o Ministério PĂșblico Federal (MPF), a procuradora da RepĂșblica em Alagoas Niedja Gorete de Almeida Rocha Kaspary disse que o órgão fez um termo de ajustamento de conduta com os gestores para que a destinação dos recursos seja para a educação, mas que não seria possĂ­vel esse rateio entre os professores.

"O MPF, no entanto, esclarece que compreende a importância da remuneração do profissional da educação e que sabe da importância desse profissional porque paĂ­s sem educação e profissionais qualificados e bem remunerados não tem como avançar". "Não estamos esquecendo a importância desse profissional e da necessidade de uma remuneração condizente com a nobreza desse cargo", destacou a procuradora.

Fonte: AgĂȘncia Brasil

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