O ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, confirmou em coletiva de imprensa nesta terça-feira (21/7), que não há interesse por parte do governo em prosseguir com a maior pesquisa de levantamento de dados e cenários brasileiros no âmbito da pandemia de covid-19. Após três fases, o estudo EpiCovid BR-19, desenvolvido pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), teve os investimentos interrompidos.
"A pesquisa dessa forma ficou mais regionalizada e tivemos dificuldade de transferir o raciocínio para fazer uma triangulação das ideias para efeito de Brasil, como um todo. O Brasil é muito heterogêneo a gente precisaria de pesquisas individualizadas em cada região do país", justificou Pazuello, ponderando ter achado a pesquisa "muito boa".
A especulação de que o governo não teria interesse em continuar com as divulgações ocorria desde a divulgação dos dados em coletiva de imprensa, em 2 de julho. Ao lado dos técnicos da pasta, o coordenador do EpiCovid e reitor da UFPel, Pedro Hallal, anunciou os resultados da pesquisa, que avaliou 133 cidades de todas as unidades federativas. O levantamento inferiu que há 6 vezes mais pessoas com anticorpos para a covid-19 do que o número de casos notificados. "O tamanho total do iceberg do coronavírus é muito maior do que o que aparece nas estatísticas porque muitas pessoas tem quadros menos graves e não procuram serviços de saúde e não fazem testagem", explicou, na ocasião, Hallal.
Pelos técnicos presentes, o estudo foi indicado como sendo "um dos maiores estudos de covid-19 do mundo". "O Ministério da Saúde financiou um dos maiores estudos de inquérito epidemiológico do mundo. O resultado que a Universidade Federal de Pelotas nos traz hoje é uma peça fundamental para dar informações adicionais sobre comportamento do vírus", discursou o secretário-executivo, Elcio Franco
A confirmação de que o Ministério da Saúde não continuará a financiar a pesquisa surpreendeu até mesmo o coordenador da pesquisa. Em entrevista ao Correio, ele afirmou não entender a decisão e diz que não foi informado sobre, o que considera "desrespeito" e falta de prioridade da gestão à Ciência."É uma pesquisa de 133 cidades do Brasil, espalhadas em todos os estados da federação. Não dá para entender o que o ministro quis dizer com pesquisa regionalizada", lamentou.
Questionado sobre o que acreditava ter sido motivo da interrupção, Hallal opinou: "Talvez o ministério não tenha recebido de forma satisfeita a quantidade de informações, a transparência dos dados do Epicovid sobre a situação do país inteiro, a velocidade com que a doença estava se espalhando, O ministério talvez não quisesse ter tantos dados sobre covid nesse momento. Outra explicação é que se tiver os dados e não soubera o que fazer com eles, também não adianta", afirmou Hallal.
Para continuar o estudo, os pesquisadores contam com colaboração de outras iniciativas, que já manifestaram interesse em investir na continuidade da plataforma. Além disso, o Ministério Público junto ao Tribunal de contas da União (TCU) chegou a, inclusive, entrar com uma representação com o requerimento de medida cautelar, em que o procurador Lucas Furtado afirma que a pesquisa deve ser mantida até tribunal decida sobre o mérito.
Fonte: O Imparcial