Em menos de 1 minuto, oito mulheres exibem, em sequência, duas versões delas mesmas: na primeira, trajam uniforme da Polícia Militar do Maranhão; na segunda, graças aos recursos de edição do aplicativo de vídeos Tik Tok, como em um passe de mágica, as policiais aparecem produzidas, em looks bastante diferentes do que são habituadas a usar no dia a dia de trabalho.
A "transformação" chamou a atenção de muita gente nas redes sociais. Já são milhares de visualizações em diversos perfis que reproduziram o vídeo das PM"s maranhenses, no próprio Tik Tok, no Instagram e no Facebook – isso sem contar a infinidade de compartilhamentos no WhatsApp.
O problema é que, além da fama, as militares também causaram desconforto e incômodo no próprio Comando da Polícia Militar do Maranhão, que, tão logo soube do conteúdo, determinou a abertura de uma sindicância para apurar "eventual transgressão disciplinar" cometida pelas servidoras, dentre as quais há, pelo menos, uma oficial Capitã QOPM. Na corporação, o encarregado da apuração é o Tenente Coronel Raimundo Borba Lima.
"A apuração tem a ver com o respeito ao nosso regulamento, que é claro ao determinar que o uso do uniforme militar deve se dar apenas quando o policial estiver de serviço. Demonstrar o respeito a essa norma é, também, respeitar a própria população maranhense, que precisa ver a Polícia Militar como uma instituição séria e confiável, e não como como uma instituição cujos servidores brincam e dançam de farda, especialmente em um momento de tanta dor para centenas de pessoas como o que estamos vivendo", justifica o Coronel Pedro Ribeiro, Comandante Geral da PMMA.
Assim que a portaria determinando a investigação foi publicada, teve início nas redes sociais uma avalanche de discussões e polêmicas relacionadas ao comportamento das militares e à atitude da PM. A maioria dos comentários e posicionamentos é de apoio às mulheres.
"Não vi nada demais. Policiais que se vestem de uniforme e mostram que também são lindas e femininas. Parabéns, meninas! Sociedade está para acolher vocês. Lindas e profissionais.", comentou uma usuária do Instagram.
Um homem comentou: "Primeiro que não mancharam a farda e nem a imagem da PM; segundo que, antes de policiais, elas são pessoas e têm o direito de se produzirem e de se manifestarem nas suas próprias redes sociais".
Também há comentários que tentam explicar a atitude do Comando Geral.
"Será que quando prestaram concurso não sabiam que existiam regras que precisavam ser respeitadas?", questiona uma mulher, que acrescenta em outro comentário: "Só acho que vida particular é uma coisa, profissional é outra. Não pago o salário delas com meus impostos para ficarem se exibindo com farda em redes sociais", opina.
Outra pessoa compartilha o pensamento de que, ao estarem fardadas, elas representam o estado do Maranhão. "Uniforme é uma marca da corporação e existe todo um regimento do que pode e não pode fazer fardado", expõe o homem.
Também há comentários que julgam a iniciativa do Comando da Polícia Militar como machista. "Ser mulher nesse país é difícil. Acabaram de dizer com essa postura que ser policial é adotar uma postura mais masculina", opina outra usuária da rede social.
Outra mulher complementa: "Já olhei vídeos de homens que fizeram e não teve essa repercussão negativa".
O Comando Geral da PMMA defende que não há nenhum juízo sexista no caso das militares. De acordo com o Comandante Pedro Ribeiro, servidores homens e mulheres que desrespeitam o uso do uniforme, bem como incorrem em outros eventuais desvios de conduta, passam pelo mesmo procedimento.
Em abril deste ano, um soldado de Timon, na região leste do Maranhão, também gravou um vídeo em que aparece, inicialmente, de trajes íntimos e semi-nu; depois, surge usando fardamento militar, exibindo uma arma da corporação. O Comando Geral da PM também abriu sindicância para apurar a situação envolvendo o militar.
Apesar de não haver nenhum tipo de excesso, e de esse tipo de vídeo-montagem ser absolutamente comum nas plataformas digitais, policiais militares de fato são subordinados a diversas normas próprias da instituição. Uma delas é a Lei Estadual 6.513, de 1995, também chamada de Estatuto dos Militares.
Na Seção Única, que versa especificamente sobre o uso dos uniformes, o Estatuto traz um parágrafo único:
"Constitui crime o desrespeito aos uniformes, distintivos, insígnias e emblemas militares, bem como o uso por quem a eles não tem direito".
O Artigo 103 estabelece que o uso dos uniformes bem como dos distintivos, insígnias e emblemas, e ainda modelos, descrição, composição, peças, acessórios e outras disposições, são estabelecidas em regulamento peculiar.
Fonte: O Imparcial