Vacina russa contra covid-19 entra na fase final de testes

A fórmula deve ter ''circulação pĂșblica'' em meados de agosto e ser produzida em grande escala a partir de setembro. Segundo o governo, os resultados dos primeiros ensaios em humanos indicam que a imunização Ă© tão segura quanto as disponĂ­veis no mercado

Por Correio Braziliense - Posicionaento textual - Ricardo Becker em 14/07/2020 às 12:07:00
Foto: Ben Stansall - (AFP)

Foto: Ben Stansall - (AFP)

Em uma estratégia parecida com a dos chineses — que, no fim do mĂȘs passado, anunciaram que dariam inĂ­cio à aplicação de uma vacina experimental de "forma interna" no Exército —, o governo russo prevĂȘ iniciar, em um mĂȘs, "a circulação pĂșblica" de uma fórmula contra o Sars-CoV-2. A vacina foi desenvolvida pelo Instituto Gamaleya, em parceria com a Universidade Sechenov, e tem obtido resultados promissores nas primeiras fases dos ensaios com humanos.

A segurança da vacina foi confirmada. Corresponde à segurança das vacinas que estão atualmente no mercado", disse Alexander Lukashev, diretor do Instituto de Parasitologia Médica, Tropical e Doenças Transmitidas por Vetores da universidade russa, em entrevista à agĂȘncia de notĂ­cias Sputnik. O próximo passo vem em sequĂȘncia a esses avanços. "LĂĄ para 14 e 15 de agosto, espero, entrarĂĄ em circulação a quantidade pequena de vacina que devemos ser capazes de produzir" afirmou Alexander Ginsburg, diretor do Instituto Gamaleya, em entrevista à agĂȘncia de notĂ­cias RIA. Também de acordo com Ginsburg, a produção em massa da fórmula deve ser iniciada em setembro.

Essa nova etapa funcionaria como uma fase 3 dos ensaios clĂ­nicos, quando se avalia a eficĂĄcia de uma vacina a partir de um nĂșmero maior de voluntĂĄrios. Nas fases 1 e 2, os cientistas estão mais focados em investigar a segurança da abordagem proposta. No caso da vacina russa, os testes com humanos estão sendo conduzidos pela Universidade Sechenov e envolvem 38 voluntĂĄrios saudĂĄveis — homens e mulheres com idade entre 18 e 65 anos. O primeiro grupo, composto por 18 pessoas, foi vacinado em 18 de junho. O segundo, com 20 pessoas, em 23 de junho.

Segundo Yelena Smolyarchuk, diretora do Centro UniversitĂĄrio de Avaliação Especializada de Medicamentos da universidade, a vacina testada se mostrou segura, como o esperado pela equipe. De acordo com o Ministério da Defesa, dados disponĂ­veis mostram também "que os voluntĂĄrios desenvolveram uma reação imunológica à vacina contra coronavĂ­rus". Porém, os resultados obtidos até o momento não foram divulgados em uma revista cientĂ­fica, quando hĂĄ revisão dos pares.

Duas doses

Em nota, a universidade explica que a fórmula é uma vacina liofilizada — "um pó do qual uma solução é preparada para injeção intramuscular". Alguns participantes do estudo experimentaram dores de cabeça e temperatura corporal elevada. "No entanto, esses sintomas desapareceram completamente dentro de 24 horas após a administração da vacina", enfatiza o texto. Segundo Yelena Smolyarchuk, essa resposta à injeção é bastante tĂ­pica no caso de doenças infecciosas, e não houve piores complicações.

A previsão é de que o primeiro grupo de voluntĂĄrios receba alta do hospital amanhã e o segundo, na próxima segunda-feira. Em 28 de julho, os participantes devem receber a segunda dose. Em entrevista à agĂȘncia russa Ria Novosti, Alexander Gintsburg explicou que a medida pretende aumentar o tempo de proteção. "A experiĂȘncia com a vacina contra o ebola mostra que, se vocĂȘ se restringir a uma Ășnica dose, terĂĄ um nĂ­vel de proteção contra infecção de cinco a seis ou sete meses. Para imunizar por dois anos ou mais, serĂĄ necessĂĄria uma segunda dose", justificou.

Por enquanto, os participantes estão alojados em enfermarias simples ou duplas no campus da universidade. O isolamento de 28 dias tem como objetivo protegĂȘ-los da exposição a outras infecções. Além de apoio psicológico, eles podem frequentar instalações esportivas para a prĂĄtica de atividades fĂ­sicas, segundo a universidade. A vacina também estĂĄ sendo testada no Hospital Militar Burdenko, em Moscou. Nesse caso, porém, é usada uma versão lĂ­quida da forma.

Destaque chinĂȘs

A vacina é a primeira e a Ășnica fabricada na RĂșssia indicada no relatório mais recente da Organização Mundial da SaĂșde (OMS) sobre ensaios clĂ­nicos em andamento: são 21 no total. O governo russo desenvolve 17 fórmulas imunizadoras contra a covid-19, das quais trĂȘs ou quatro devem entrar na fase de produção, segundo o Ministério da SaĂșde.

No momento, dois projetos estão em estĂĄgio avançado dos ensaios clĂ­nicos: um da chinesa Sinopharm e outro da AstraZeneca e da Universidade de Oxford. Essa segunda inciativa contarĂĄ com a participação de voluntĂĄrios brasileiros, assim como a fórmula desenvolvida pela chinesa Sinovac Biotech, cujo inĂ­cio da fase 3 dos testes com humanos estĂĄ previsto para o próximo dia 20.

A China é o paĂ­s com maior nĂșmero de testes de vacinas contra a covid-19 em andamento. Ao todo, oito projetos receberam permissão para a realização de ensaios em humanos tanto dentro do paĂ­s quanto no exterior. Um deles, conduzido pela empresa CanSinoBio e pela Academia Militar de CiĂȘncias Médicas, é testado apenas em militares, depois que "os dados dos testes clĂ­nicos demonstraram um bom perfil de segurança e nĂ­veis elevados de resposta imune", segundo nota divulgado pelo grupo.

Europeus negociam 300 milhões de doses

A Sanofi estĂĄ perto de chegar a um acordo com a União Europeia (UE) para fornecer 300 milhões de doses de uma eventual vacina contra o coronavĂ­rus. O acordo seria semelhante ao finalizado recentemente com os Estados Unidos. De acordo com Olivier Bogillot, presidente do grupo farmacĂȘutico na França, mas detalhes sobre a negociação serão divulgados "nos próximos dias ou semanas". "O nosso objetivo é trabalhar com o conjunto dos Estados para distribuir a vacina para todos ao mesmo tempo", explicou Bogillot, em entrevista à agĂȘncia France-Presse de notĂ­cias (AFP). A Sanofi foi alvo de fortes crĂ­ticas quando seu diretor-geral, Paul Hudson, falou, em maio, sobre a possibilidade de favorecer os Estados Unidos na distribuição da vacina, depois que Washington financiou parte de sua pesquisa. O laboratório francĂȘs estĂĄ desenvolvendo duas vacinas contra a covid-19, com tecnologias distintas.

Fonte: Correio Braziliense

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