Depois de um 2020 completamente afetado pela pandemia de Covid-19, a indústria do cinema esperava um ano mais estável e com resultados financeiros melhores. Entretanto, isso não aconteceu durante todo 2021. Isso porque, logo nos primeiros meses, as salas de cinema voltaram a fechar pelo avanço da pandemia e operaram com capacidade reduzida por meses até que as leis permitissem o retorno completo, que só foi visto no final do ano. E mesmo com esse retorno, o impacto da pandemia e do crescimento do streaming, especialmente da chegada de novos serviços como Disney+ e HBO Max, foi sentido pelo cinema. Além de um fluxo cada vez maior de conteúdo em serviços de streaming, a janela de intervalo entre o lançamento no cinema e nas plataformas caiu, fazendo com que produções cheguem às casas poucas semanas do lançamento original.
Segundo o youtuber e jornalista especializado em cultura pop Thiago Romariz, as mudanças na indústria cinematográfica seguirão acontecendo, assim como tem sido visto nos últimos anos. O cinema terá que continuar se adaptando às situações, assim como tem feito nos últimos anos. “Eu acho que é permanente a mudança. A mudança de que o cinema não é igual ele era antes. A pandemia veio para estabelecer uma mudança clara de comportamento das pessoas. É algo que já existia, não é novo, mas a pandemia acelerou. O cinema não vai morrer ou desaparecer como as pessoas acham que ele vai. Ele vai mudar, e precisa mudar, por sobrevivência, do mesmo jeito que a gente viu rádio, áudio e televisão mudarem. As mudanças permanentes que eu acho que vão acontecer estão no comportamento das pessoas”, explica Thiago.
Uma das principais apostas das plataformas de streaming foi em produzir conteúdos originais para movimentar seus catálogos. Diversos sucessos como “Luca“, da Disney, ou “Ataque dos Cães“, da Netflix, não tiveram lançamentos no cinema e chegaram direto nas plataformas. Para Thiago, a criação de conteúdos originais deverá aumentar nos próximos anos para tentar atrair mais pessoas. “Do mesmo jeito que as pessoas criavam franquias nos games e no cinema, e elas buscavam sempre isso, com o streaming vai ser a mesma coisa. E não necessariamente 100% original, você pode buscar o direito de um livro ou de um quadrinho e fazer isso no streaming. É o mesmo raciocínio, só muda a mídia”, explica o jornalista, que pondera: “Não acho que vai minar ainda mais o cinema, mas vai ser mais frequente porque você precisa de conteúdo original para que o seu catálogo seja grande”.
O impacto da pandemia também foi sentido nas premiações do entretenimento. Eventos como o Grammy já mostravam que o Oscar deveria sofrer com a perca de audiência, e foi o que aconteceu. A cerimônia organizada pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas registrou em 2021 a pior audiência de sua história, sendo assistida por 9,85 milhões de pessoas nos Estados Unidos. Defendendo uma atualização no modelo de premiações, Thiago diz que a Academia e a indústria do entretenimento precisa incluir mais as pessoas e fugir do formato tradicional que não está mais mostrando resultados. “As premiações já vinham caindo, não tinham mais o formato que as pessoas gostavam e vimos isso ficando cada vez maior. É o momento deles repensarem, porque as pessoas não vão assistir as coisas em uma tela só, não querem assistir só uma entrega de premiação. Você precisa incluir mais pessoas, mais público, ter mais diversidade. Uma série de coisas diferentes. É mais uma tendência que a pandemia acelerou. As premiações não podem mais serem iguais às da década de 90, que é o que o Oscar estava fazendo por exemplo”, afirmou.
Ao comentar as expectativas para a indústria cinematográfica, Thiago diz que provavelmente os estúdios e distribuidoras deverão correr atrás de recuperar o patamar de bilheterias observado antes da pandemia, mas que o cinema e o streaming terão que se readaptar à realidade trazida pelo contexto pandêmico. “Ele (o cinema) vai sentir um pouco do que é voltar ao normal, mas a gente vai ver os estúdios e as distribuidoras cada vez mais tentando voltar ao patamar de lucro de antes. Vai demorar um pouco porque foram dois anos sem bilheteria basicamente, e eles vão ter que recuperar o tempo perdido. Então, vai ser uma dominância de grandes filmes, como a gente viu acontecer. Deve ser um ano de reajuste e de se entender como um novo momento”, afirma Thiago.
Fonte: JP