Campanha quer reforçar prevenção ao vĂ­rus que causa bronquiolite

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e a farmacêutica AstraZeneca divulgaram ontem (17) uma campanha para reforçar a prevenção aos casos de...

Por Jota Silva em 18/02/2022 às 07:54:21

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e a farmacĂȘutica AstraZeneca divulgaram ontem (17) uma campanha para reforçar a prevenção aos casos de vĂ­rus sincicial respiratório (VSR) em bebĂȘs prematuros e com condições de saĂșde consideradas de risco para essa infecção. O vĂ­rus é o principal responsĂĄvel por casos de bronquiolite e pneumonia em bebĂȘs e também estĂĄ associado a uma maior frequĂȘncia de internações por sĂ­ndromes respiratórias nesse grupo.

O presidente do Departamento CientĂ­fico de Imunizações da SBP, Renato Kfouri, explicou que ainda não hĂĄ vacina que previna esse vĂ­rus, mas o Sistema Único de SaĂșde (SUS) disponibiliza, desde 2013, outra forma de prevenção: os anticorpos monoclonais, que são anticorpos artificiais que podem ser dados aos bebĂȘs mensalmente durante o perĂ­odo de maior circulação do vĂ­rus.

"Eles tĂȘm a função de se ligar ao vĂ­rus e impedir a adesão dele ao epitélio respiratório (mucosas). É prevenção, é imunização, mas não é vacina. É um conceito um pouco diferente. A gente oferece um anticorpo artificial, pronto, para o indivĂ­duo", diferencia Kfouri, jĂĄ que, nas vacinas, a estratégia de prevenção é estimular o corpo humano a produzir os anticorpos.

Anticorpos

Os anticorpos monoclonais contra o VSR estão presentes no fĂĄrmaco palivizumabe, que a AstraZeneca fornece tanto para a saĂșde privada quanto para a saĂșde pĂșblica no Brasil.

O Ministério da SaĂșde prevĂȘ que esses anticorpos devem ser oferecidos a crianças prematuras de até 29 semanas e com idade inferior a 1 ano, ou a crianças de até 2 anos com doença pulmonar crônica da prematuridade, doença cardĂ­aca congĂȘnita ou repercussão hemodinâmica demonstrada. Segundo determinação da AgĂȘncia Nacional de SaĂșde Suplementar (ANS), planos de saĂșde também devem cobrir o medicamento nesses mesmos casos.

Com a campanha, a Sociedade Brasileira de Pediatria pretende conscientizar pediatras sobre a importância da prescrição desses anticorpos nos casos em que ele é recomendado. Kfouri acrescenta que pais e responsĂĄveis pelas crianças prematuras também podem levantar esse assunto nas consultas ou buscar o pediatra que acompanha o bebĂȘ, caso a prescrição não tenha sido feita.

"Esses prematuros nem sempre estão vinculados a um serviço de seguimento de prematuros. Muitas vezes, são acompanhados por pediatras da rede pĂșblica, do SUS, de consultórios particulares e muitas vezes é necessĂĄria uma atualização e uma capacitação desse profissional."

Cuidados especiais

A campanha conta com fotos de bebĂȘs prematuros vestidos como guerreiros e guerreiras para lembrar que essas crianças passam por momentos difĂ­ceis logo após o parto e precisam de cuidados especiais para fortalecer as defesas de seus organismos. "Perder um bebĂȘ prematuro, depois de muito lutar, para uma doença respiratória evitĂĄvel, prevenĂ­vel, é muito triste."

Além dos anticorpos artificiais, a prevenção ao vĂ­rus sincicial respiratório em bebĂȘs prematuros também deve ser feita com cuidados não farmacológicos, que devem ser reforçados nos perĂ­odos de maior circulação do vĂ­rus.

Entre essas medidas estĂĄ o aleitamento materno sempre que possĂ­vel, a higiene adequada das mãos (uso de ĂĄlcool em gel e sabonetes germicidas), o uso de mĂĄscara, evitar que a criança respire fumaça de cigarro, retardar a entrada em creches e berçĂĄrios e evitar visitas.

"Um bebĂȘ mais vulnerĂĄvel é como se a gente tivesse dentro de casa uma pessoa imunocomprometida, alguém com câncer, alguém transplantado. O bebĂȘ prematuro tem uma imunidade rebaixada e por isso é mais vulnerĂĄvel não só ao VSR", explica Kfouri, que reforça a importância de que os familiares dessas crianças tomem todas as vacinas disponĂ­veis em seu calendĂĄrio no Programa Nacional de Imunizações e, assim, não transmitam outras doenças imunoprevinĂ­veis aos bebĂȘs.

Circulação do vĂ­rus

Como a maior parte das doenças de transmissão respiratória, o VSR circula principalmente no outono e inverno, mas essa sazonalidade também pode ser afetada por fatores como umidade e até volume de chuvas. No Brasil, o perĂ­odo de maior circulação desse vĂ­rus costuma começar em fevereiro no Norte, em março no Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste, e em abril no Sul.

O perĂ­odo de circulação costuma durar cerca de quatro meses, e o especialista da SBP afirma que é recomendĂĄvel iniciar a imunização com o palivizumabe um mĂȘs antes dessa janela, administrando o fĂĄrmaco uma vez por mĂȘs por até cinco meses. Como os anticorpos jĂĄ chegam prontos ao corpo das crianças, o sistema imune não aprende a produzi-lo e, por esse motivo, o remédio precisa ser administrado uma vez por mĂȘs.

Com a pandemia de covid-19, o predomĂ­nio do SARS-CoV-2 sobre outros vĂ­rus e as medidas de prevenção tomadas para conter sua circulação, outras doenças foram afetadas, o que inclui o VSR. O vĂ­rus teve sua circulação praticamente interrompida nos perĂ­odos de maior isolamento social e voltou de forma atĂ­pica em 2021, causando um aumento de casos até mesmo depois de setembro, quando jĂĄ deveria estar em queda. Mesmo assim, dados do sistema InfoGripe mostram que o VSR pode ter causado mais casos de sĂ­ndrome respiratória aguda grave (SRAG) na faixa etĂĄria de menos de 1 ano que a covid-19, ao longo do ano de 2021.

Fonte: AgĂȘncia Brasil

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