Alexandre Garcia: Foi o STF que tirou gerĂȘncia da pandemia de Bolsonaro

''Ironicamente, foi o Supremo, com o voto de Gilmar, que tirou do presidente a administração da pandemia, atribuindo-a aos governadores e prefeitos. Se houvesse, pois, o 'genocĂ­dio', teria sido gerado nos estados e municĂ­pios, não em nĂ­vel federal''

Por lexandre Garcia - Posic. textual - Ricardo Becker em 15/07/2020 às 12:13:58
(foto: Antonio Cunha/CB/D.A Press)

(foto: Antonio Cunha/CB/D.A Press)

Não lembro de ter lido nota mais dura de militares do que essa resposta ao ministro Gilmar Mendes. Ou "senhor Gilmar Mendes" — a nota nem sequer lhe dĂĄ o tratamento de ministro ou excelĂȘncia, para mostrar que não vincula a reação ao Supremo. Numa live, Gilmar Mendes comentou que hĂĄ militares e um general na Saúde, como ministro interino, e acrescentou que "o Exército estĂĄ se associando a esse genocídio". A Defesa responde que o comentĂĄrio estĂĄ afastado dos fatos e causa indignação; que é uma acusação grave, infundada, irresponsĂĄvel e leviana. A resposta é assinada pelo ministro da Defesa, com o reforço das significativas assinaturas dos comandantes do Exército, da Marinha e da AeronĂĄutica.

Os militares registram que na lei brasileira genocídio é definido como "a intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial ou religioso". Pelo jeito, o ministro Gilmar aderiu à "narrativa". Como sabemos, a palavra narrativa, que significa a maneira de narrar, hoje quer dizer versão de um fato. A menção "esse genocídio" é a "narrativa" com que um gabinete de ódio procura carimbar o presidente.

Ironicamente, foi o Supremo, com o voto de Gilmar, que tirou do presidente a administração da pandemia, atribuindo-a aos governadores e prefeitos. Se houvesse, pois, o "genocídio", teria sido gerado nos estados e municípios, não em nível federal. O ministro Gilmar desconheceu os milhares de militares das trĂȘs forças que estão trabalhando para aliviar os efeitos da covid-19, desde o voo pioneiro que resgatou brasileiros em Wuhan, no início de fevereiro. Além disso, como jurista, deve saber o significado de genocídio.

O ministro Gilmar também adere à narrativa sobre militares no governo. Como homem de leis, deve saber que não hĂĄ preconceitos legais na ocupação de cargos por civis ou militares. O engenheiro João PandiĂĄ Calógeras foi um poderoso ministro da guerra no governo do presidente EpitĂĄcio Pessoa; José Serra foi um bom ministro da Saúde sem ser médico. E o general Pazuello realiza um trabalho com eficiĂȘncia que ouvi ser elogiada por prefeitos; o governador de Brasília chegou a afirmar no Estadão que o general vai ser o melhor ministro da Saúde que jĂĄ existiu. Militares tĂȘm formação de planejamento estratégico, patriotismo, obediĂȘncia às leis, princípios éticos e sentido de missão. Declarações de juízes fora de tribunais são perigosas, porque eles podem ter que julgar questões sobre as quais jĂĄ emitiram opinião. De Portugal, Gilmar tentou se explicar, mas sua nota ficou parecendo um pronunciamento. Quem fala demais dĂĄ bom-dia a cavalo.

Fonte: Correio Braziliense

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