Com impactos no preço da energia elétrica, a crise hĂdrica pressionarĂĄ a inflação nos próximos meses, disse ontem (24) o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto. Ele também manifestou preocupação com a inflação dos serviços e com gargalos internacionais no fornecimento de insumos, como semicondutores, que afetam os preços de vĂĄrias mercadorias.
"[A crise hĂdrica] agravou-se muito com a falta de chuva e deve continuar sendo um elemento de pressão nos próximos meses", disse o presidente do BC em evento online promovido por uma empresa de investimentos financeiros. Sobre a inflação dos serviços, ele disse que o grande risco estĂĄ no fato de que a recuperação ocorre de forma distinta entre os setores, criando desequilĂbrios temporĂĄrios.
Em relação à escassez de semicondutores, o presidente do BC disse acreditar que o problema esteja mais relacionado com o aumento da demanda provocado pela recuperação econômica global do que pela redução da oferta. Os semicondutores são materiais capazes de conduzir correntes elétricas, usados na produção de chips de smartphones e computadores. Nos Ășltimos meses, tem havido falta de chips em todo o planeta, o que afeta a produção de diversos itens tecnológicos.
"A gente tem de fato uma espera um pouco maior [por semicondutores]. Mas se a gente olhar a produção, houve uma queda muito grande em um ou dois meses [no inĂcio da pandemia], mas em grande parte da pandemia, ela só aumentou. Então pode ter tido uma ruptura, mas acho que é mais um tema de demanda", declarou.
Outro fator que tem pressionado a inflação, disse Campos Neto, é o que ele chamou de inflação verde. Por causa dos investimentos em tecnologias limpas e ecológicas, a demanda por determinados tipos de materiais, como alguns tipos de metais, tem subido. Além disso, a adaptação de diversas técnicas de extração mineral tem elevado temporariamente o custo de alguns materiais, como o alumĂnio.
"Para atingir esse crescimento mais verde, é preciso uma demanda muito maior em alguns metais. Lembrando que para parte desses metais, a produção não é um processo muito verde, principalmente alumĂnio. Então vemos com preocupação notĂcias de fechamentos de minas de cobre, mudanças para tornar mais sustentĂĄvel a produção de alumĂnio. Isso diminui a produção e aumenta custos", destacou Campos Neto.
Nos 12 meses encerrados em julho, a inflação oficial estĂĄ em 8,99% pelo Ăndice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Na edição mais recente do boletim Focus, pesquisa de mercado feita toda semana pelo BC, os analistas financeiros esperam que o Ăndice feche este ano em 7,11% e atinja 3,93% em 2022. As projeções estão acima das metas de 3,75% em 2021 e de 3,5% no próximo ano.
Sobre o tema, o presidente do BC afirmou apenas que a autoridade monetĂĄria "vai perseguir a meta no horizonte relevante", indicando que a inflação deve convergir para a meta até o fim de 2022. Ele também ressaltou que as estimativas do mercado para o IPCA no próximo ano estão maiores que expectativas do BC.
"O controle de expectativas de preços é a variĂĄvel mais fundamental na economia. O BC entende que é muito importante perseguir a meta em um horizonte relevante", destacou Campos Neto, reafirmando que a autoridade monetĂĄria tem os instrumentos necessĂĄrios para fazer a inflação voltar às metas estabelecidas.
O presidente do BC classificou de "ruĂdos de curto prazo" as incertezas provocadas pela reforma do Imposto de Renda, que pode diminuir a arrecadação, e a proposta de emenda à Constituição (PEC) que parcela os precatórios (dĂvidas do governo reconhecidas definitivamente pela Justiça) e introduz gastos fora do teto. Segundo Campos Neto, os dados atuais das contas pĂșblicas estão melhores do que as expectativas de mercado.
"O ruĂdo é oriundo da percepção do mercado que alguns programas estariam ligados a uma necessidade de fazer um Bolsa FamĂlia mais amplo e mais rĂĄpido", declarou. Ele ressaltou que esses são planos do governo que ainda não se refletem no quadro fiscal nem nos fundamentos da economia.
Fonte: EBC