A economia brasileira sofreu um tombo inédito de 10,94% no segundo trimestre, por conta da pandemia do novo coronavírus. E só não caiu mais porque o agronegócio continuou impulsionando a produção e as exportações do Brasil e, sobretudo, do Centro-Oeste. A região foi a que menos sofreu os impactos econômicos da pandemia, já que concentra a maior parte das grandes lavouras brasileiras.
Os números da economia na primeira metade do ano foram apresentados ontem pelo Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) do Banco Central (BC), uma espécie de prévia do Produto Interno Bruto (PIB). Segundo o indicador, o baque econômico do segundo trimestre, o maior da história, refletiu a necessidade de isolamento social, que exigiu o fechamento de diversas atividades econômicas.
O Boletim Regional do BC revelou que a economia do Centro-Oeste teve queda de 3,5% no trimestre encerrado em maio (últimos dados regionais desdobrados). Uma queda "comparativamente pequena frente às das outras regiões e ao que se observa internacionalmente", segundo o documento. No mesmo período, a atividade do país caiu cerca de 11%, refletindo os baques de 8% do Nordeste, de 6,9% no Norte, 6,8% no Sul e 6,6% no Sudeste do Brasil.
"Regionalmente, houve impacto generalizado da pandemia em intensidade relativamente semelhante, com exceção do Centro-Oeste, que registrou efeitos menos pronunciados, repercutindo particularidades da estrutura produtiva", constatou o BC. A autoridade monetária explicou que a região sofreu menos por conta da grande participação do agronegócio, setor que não depende da concentração de pessoas e tem ampliado as exportações para a China.
Segundo o BC, a produção de grãos do Centro-Oeste deve crescer 3,8% em 2020, atingindo o volume recorde de 115,8 milhões de toneladas, com destaque para a alta de 11,3% da safra de soja. Além disso, as exportações bovinas da região já aumentaram 19,7% em valor neste ano, "refletindo a valorização dos preços de proteína animal no mercado internacional ocorrida no final de 2019 e, posteriormente, a desvalorização cambial". A região fechou o primeiro semestre, portanto, com um aumento de 10,9% nas exportações, sobretudo de soja, carne bovina, algodão e frango.
"O agronegócio deve crescer 2% neste ano. É o único setor que apresentou dados positivos na pandemia. Então, é de se esperar que a queda seja menor onde o agronegócio tem uma participação maior. Por outro lado, nos estados em que a economia depende mais do setor de serviços, que é o mais afetado pelo isolamento social, o baque será maior", comentou o pesquisador da área de Economia Aplicada do da FGV Ibre, Marcel Balassiano.
O BC reconhece que o Centro-Oeste não escapou da desaceleração das vendas do comércio e de serviços. Por isso, mesmo com o avanço do agronegócio, o Centro-Oeste deve fechar o ano no negativo. A projeção do BC prevê queda de 1,7% da atividade econômica da região em 2020, frente retrações de 7,1% do Nordeste, 6,1% do Sul, 5,9% do Nordeste e 5,4% do Sudeste.
O resultado negativo de 10,94%, observado pelo Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) do Banco Central (BC) no segundo trimestre ano, dá um aviso do que vem por aí em 1º de setembro — data marcada para a divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) do período. O IBC-Br funciona como uma prévia do PIB e indicou que, além de sofrer o maior baque da sua história, o Brasil entrou em uma recessão técnica devido à pandemia da covid-19.
A recessão técnica ocorre quando a economia registra dois trimestres consecutivos de queda. Nos primeiros três meses do ano, o Brasil já caiu 1,5%, segundo o índice do BC. "Ele não é a mensuração oficial do PIB, tem metodologia diferente, mas é um forte indicador do comportamento da economia", afirmou o economista Ecio Costa. "O segundo trimestre será o pior da história do Brasil, como também vem ocorrendo na maior parte do mundo, já que foi o período mais impactado pelas medidas de distanciamento social", confirmou o pesquisador da FGV, Marcel Balassiano.
De acordo com o IBC-Br, a economia brasileira sofreu um tombo inédito de 9,62% em abril, o mês mais intenso do isolamento social. E que, mesmo dando sinais de retomada em maio e junho, ainda não conseguiu reverter todas as perdas sofridas na pandemia. "Comparando o nível do IBC-Br de junho com o de fevereiro, de antes da pandemia, a retração ainda é de 9,6%", calculou Balassiano.
Em junho, porém, o IBC-Br revelou uma recuperação expressiva de 4,89%, na comparação com maio. Alta que, segundo os economistas, reflete a reabertura das atividades econômicas e mostra que o fundo do poço da crise do novo coronavírus ficou em abril. "O dado ainda mostra uma intensificação dessa recuperação, pois foi maior do que o de maio (1,59%) e foi generalizado em todos os segmentos econômicos", comentou Costa.
Por isso, os especialistas acreditam que o tombo do PIB do segundo trimestre deve ser menor do que o do IBC-Br, ficando mais próximo dos 9,5% do que dos 11%. E lembram que os dados setoriais do IBGE trouxeram surpresas ainda mais positivas sobre o nível de recuperação da economia brasileira em junho, com avanços de 8,9% da indústria, de 8% do comércio e de 5% dos serviços.
Fonte: Correio Braziliense